28 de setembro de 2011

MONTE RORAIMA, em junho de 2009, pelo lado Venezuelano


Descrição pessoal da aventura realizada por JOTA e IOLANDA no Monte Roraima, 10ª montanha mais alta do Brasil, com 2.723 metros.

Partimos de Boa Vista-RR, por volta das 07:00 hs de ônibus (empresa União Cascavel), e chegamos na fronteira por volta das 09:00 hs, onde carimbamos nossos passaportes e apresentamos nossas carteiras internacionais de vacinação no lado brasileiro e venezuelano, onde de fato é cobrada esta carteira. Logo após isso, o ônibus nos deixou na rodoviária de Santa Elena de Uiarén, que fica do outro lado da cidade, já na sua saída. Da rodoviária pegamos um táxi para o centro onde fomos procurar uma agência de turismo para obter informações sobre hospedagem na cidade e como faria para chegar em Paraitepui d3e Roraima, onde começa a caminhada para o Monte Roraima, onde, nossa idéia era estar no outro dia bem cedo para tentar fazer a caminhada até o acampamento base, e deixar para atacar o Monte no outro pela manhã, e com o tempo que sobrasse a tarde, explorar o lado da “la ventana de kukenán”.
Não foi difícil conseguir informações na cidade, pois o táxi nos deixou na pousada ao lado de uma operadora de turismo.
Nessa pousada conhecemos dois aventureiros, um francês (Cher) e um canadense (Nicolas), que estavam a fim de subir no outro dia também; então fechamos com a operadora para levar-nos até Paraitepui, além de uma guia (Marisol), pois lá em cima não teríamos como estar sem ela, pois os sistemas de navegação e orientação nem sempre funcionam naquele local e os caminhos são muito parecidos, e as vezes parecem um verdadeiro labirinto.
Partimos (Jota, Iolanda, Cher, Nicolas e Marisol) de Santa Elena de Uiarén às 09:00 hs, chegando em San Francisco de Yuruani (trecho de asfalto) às 10:00 hs, e em Paraitepui (estrada de chão muito ruim) às 10:40 hs. Lá fizemos um almoço rápido, verificação do material e começamos a caminhada às 12:00 hs. Juntou-se a nós o porteador Elias, que levava a comida e a cozinha dos estrangeiros.
O terreno é bastante ondulado, desde Paraitepui até o Monte Roraima, e o sol bastante forte, porém já avistávamos a chuva que estava em nosso caminho. Fizemos logo uma pernada de 12 km até o Rio Tek, com poucas paradas, para ganhar tempo, e depois do Rio Tek, mais 1,5 km, vencemos o Rio Kukenán, às 15:20 hs, onde tomamos um banho muito gelado e acampamos do outro lado de sua margem. Esses dois rios, atravessamos com a água pela cintura, alguma vezes por cima de pedras, e tivemos sorte de não estarem cheios, pois quando estão cheios são impossíveis de se atravessar. De qualquer forma é impossível não se molhar ao atravessá-los.
O acampamento nesse local foi muito bom, pois podemos descansar e cozinhar mais tranquilamente, tendo em vista que existe lá uma tapera que ajuda muito. A noite estava muito estrelada e clara, e os pirilampos começaram a chegar ao escurecer.
No outro dia partimos às 06:00 hs, com a intenção de fazer uma parada no acampamento base, cerca de 9 km do Rio Kukenán, e depois enfrentar 2,5 km até o topo, com um desnível de 870 metros.
Comecei a escalada com cerca de 15 kg na mochila, pois levamos barraca, roupas de frio, comida, primeiros socorros, material de orientação, capa de chuva, água, bandeira do Brasil, entre outros.
Quando enfim chegamos ao Acampamento Base (na base do Roraima), começamos subir realmente. Esta escalada sem equipamento de segurança, como cordas e mosquetões, é possível graças a um desmoronamento que ocorreu no lado venezuelano há milhões de anos atrás, formando “la rampa de Roraima”. Porém, nem tudo é subida; há muitas descidas também, o que dificulta muito o ataque ao cume.
Existe um local, no último terço da escalada, que se chama “passo de las lágrimas”. É uma cachoeira enorme de alta, que temos que passar por baixo, tornando-se impossível chegar secos ao cume. Além disso, pegamos uma chuva muito forte nesse local, devido às “nubes orográficas”, e nossas capas de chuvas não deram conta. Com isto, nem podemos apreciar a paisagem quando chegamos ao topo, pois era muita chuva e frio, muito frio. Ainda tínhamos que chegar até o local de acampamento, cerca de 2,5 km em cima do Roraima. Nessa caminhada até o acampamento podemos verificar a real necessidade de termos um guia, pois lá em cima não há caminhos definidos, são muitas pedras iguais, enormes, tudo muito diferente do que eu já tinha visto. Como diz quem já passou por lá, parece que estamos em um local extraterreno. Os acampamentos que nossa guia chama de “hotéis” nada mais são que pequenas grutas, onde podemos nos abrigar da chuva e do vento que são constantes no topo. Ficamos no “hotel São Francisco” com área para cozinha, banheiro, local para três barracas, água próximo e uma cachoeira na frente da gruta. Existem vários hotéis lá em cima, entre outros, hotel principal, uno, índio, Basílio, guácharo, jacuzzi e coati (único no lado brasileiro).
Nesse dia em que atingimos o topo chegamos muito molhados e com frio, e fomos direto tirar as roupas molhadas e tratar de nos aquecer. Imprescindível foram os goles de run que tomamos quando chegamos para dar uma aquecida por dentro também, e foi realmente muito importante, pois mesmo que o aventureiro não possua o hábito de beber, é bom ter algo forte assim para se aquecer, quando passar por essas dificuldades, sem exageros é claro. Como a chuva não parou mais nesse dia, aproveitamos para descansar e escutar as histórias da Marisol, torcendo para que no outro dia abrisse o tempo e pudéssemos explorar o Tepuy.
Marisol é uma figura inestimável. Ela é a única guia mulher que sobe o Monte Roraima. Demos muita sorte em tê-la conosco nesta aventura, pois ficamos todos abismados com sua raça, desprendimento, educação e preocupação. Ela é simplesmente completa em sua missão. Navega e orienta muito bem; conhece muito bem a região; fala inglês, espanhol e arranha o português; tem curso de sobrevivência e primeiros socorros, além de ser muito educada e atenciosa; faz tudo isso com uma mochila toda rasgada e sem um calçado adequado. Recomendo seus trabalhos como guia. Quem for em Santa Elena de Uiaren para subir o Monte Roraima, procure a guia Marisol, que não vai se arrepender. Por outro lado, a operadora MisticTur, a qual nos indicou ela como guia, é um porcaria. Além de explorar os guias e porteadores, pagando-lhes uma miséria, descontam até o aluguel de suas barracas, fazendo com que esses profissionais optem por levar redes, o que é bem mais frio e sem proteção. A falta de educação do proprietário da MisticTur é algo assim que parece que o homem saiu de uma daquelas cavernas do topo do Roraima, e além de tudo, é mentiroso, conta um monte de histórias falsas, querendo criar um falso ar místico no ambiente. Mentiu até que já havia subido várias vezes o Monte, porém descobrimos que a figura subiu uma única vez, e de helicóptero.
Bom, portanto recomendamos a Marisol como guia, mas não recomendamos a operadora MisticTur. É possível subir o Monte somente com a guia, pois ela providencia tudo e ainda fica mais barato.
No outro dia, enfim o sol apareceu, e assim que tomamos nosso café, saímos com destino ao abismo do lado noroeste, jacuzzis, vale dos cristais e ventana. É um espetáculo estar em cima de um Tepuy, muitas pedras negras e vegetação inigualável; tudo muito diferente, realmente incrível, indescritível até. Existem muitos riozinhos, com cachoeiras e corredeiras, muitas nascentes, e pedras, muitas pedras, de todos os tamanhos e formas. Algumas lembram formas conhecidas, como o “rosto de Simon Bolívar”, o elefante, a tartaruga, o jacaré, o monstro do starwars, o escorpião, entre outras. As jacuzzis são pequenas banheiras de águas rasas, cristalinas que se formam nos rios em cima do Monte (são realmente bonitas, mas não arriscamos entrar nelas, lembrando do frio passado na chegada). Chegamos ao abismo por volta das 08:00 hs e ficamos sem fôlego, não pela distância ou pelo terreno, mas pela beleza do local. Dali, podemos observar o outro lado do Roraima, com todas suas nascentes, formando inúmeras cachoeiras de todos os tamanhos. Fotografamos bastante nesse local e repentinamente subiu uma massa de nuvens, fechando nossa visão; são as famosas “nubes orográficas”.
Então fomos para o lado que fica de frente para o Monte Kukenán, logo perto dali, onde podemos observá-lo pela “ventana do Kukenán: uma pedra enorme que está sobre outras, dependurada no abismo, formando uma janela onde observa-se o Tepuy em frente. Muito legal. Aproveitamos bem contemplando a natureza que estava lá embaixo e registramos com muitas fotos.
Seguimos para uma cachoeira que fica escondida numa fenda, quase imperceptível, muito linda e importante, pois lá seria o nosso local de banho, até que enfim. O sol estava forte como pedimos na noite passada para os Guardiões de La Montanha, e então resolvi aproveitar para ir logo ao outro lado do Monte Roraima, onde se encontra o Ponto Triple (fronteira Brasil/Venezuela/Guiana), outro Vale dos Cristais, outras Jacuzis, e El Foso.
Resolvi, juntamente com a Marissol, seguir para explorar o outro lado do Monte, sua parte norte, nós dois somente, pois seria muito puxada essa caminhada até o outro lado e voltaríamos à noite, então saímos em direção ao nosso hotel para pegarmos as lanternas de cabeça e reabastecer de comida. Fizemos cerca de 12 km até o Vale dos Cristais, local muito lindo, com muitos cristais, porém nada comparado as descrições da guia, de como era o vale antes de serem levados os cristais gigantes que existiam ali. Logo seguimos para o Ponto Triple, onde fizemos mais uns 3 km, quando podemos avistar ao longe o marco branco que serve de ponto zero das fronteiras. Não é um local muito bonito, pois quase só se vê pedras escuras formando labirintos, porém ter chegado até ali foi um dos momentos mais incríveis dessa aventura. Cheguei até o Ponto Triple do Roraima!!!
Agora tínhamos que seguir para El Foso, mais 5 km sobre pedras, e onde achei que não teria muito espetáculo a ser visto, me impressionei com a maravilha do local. Simplesmente impressionante!!! O córrego está vindo e cai num fosso, com 10 metros de altura e um diâmetro de boca de 30 metros. Depois ele segue por baixo das pedras não sei pra onde, e ainda, embaixo podemos ver uma gruta que sai para o lado norte. Essa gruta nos leva para cima novamente, propiciando acesso pelo outro lado também. Espetacular !!!
Agora era só voltar observando as formações que existem nas rochas, onde, com pouca imaginação pode se visualizar formas incríveis, como descrito antes. Logo que partimos escureceu, mas seguimos tranqüilos caminhando com as lanternas que estavam desempenhando muito bem seu trabalho. Porém com uma hora de caminhada no escuro, baixou uma serração que dificultou nosso regresso, pois não conseguíamos ver nada na nossa frente a mais de um metro. Mas Marisol soube nos conduzir de volta para o acampamento sem errar o caminho de volta.
Chegamos por volta das 20:00 hs após ter feito cerca de 35 km em cima do Roraima, com frio e fome, mas eu estava muito contente em ter atingido os objetivos que tinha me proposto, com a certeza de  ter cumprido minha missão.
Porém era hora de planejarmos a descida, torcendo que fosse com sol e sem chuva, pois a subida foi muito árdua nas condições que subimos. Combinamos em tentar fazer todo o percurso de descida, até Paraitepui no mesmo dia, sendo que para isso levantaríamos acampamento bem cedo, às 05:00 hs, e faríamos uma reavaliação de nossas condições físicas no acampamento base, para tentar chegar até nossa largada em Paraitepui. 
Após descer até o acampamento base, decidimos seguir direto para a largada, porém solicitamos pelo rádio que a viatura que nos levou até a vila estivesse lá as 17:00 hs daquele dia, pois tínhamos combinado, inicialmente, que voltaríamos no outro dia no final da tarde. Contato feito, seguimos. E foi bem ralado; o terreno é muito ondulado, sobe e desce toda hora. Fizemos uma parada no acampamento do Rio Tek, onde almoçamos e tratamos dos pés e equipamentos; ainda nesse local, podemos degustar do Caxiri, uma bebida típica dos índios, que é feita da mandioca fermentada. Chegamos à Paraitepui por volta das 17:00 hs, muito cansados e com os joelhos doendo devido ao sobe e desce interminável. Porém muito felizes em ter conseguido atingir nossos objetivos, com a graça de Deus.
Fizemos a ida, escalada e volta em 3 dias e 5 horas, o que foi bastante puxado. Normalmente a subida ao Monte Roraima é feita em 6 dias. Dei sorte de todos que estavam comigo andarem muito bem, apesar da falta de experiência dos estrangeiros, eles tinham bom preparo físico e muita vontade de superar seus limites. Foi um árduo teste para joelhos, pés, cabeça, equipamentos, mas todos nós conseguimos chegar muito felizes com mais essa conquista. BRASIL!!!

Outras informações do Monte Roraima
O Monte Roraima faz parte de um terreno montanhoso com centenas de outras montanhas e montes chamados de Tepuis localizado ao Sul da Venezuela, extremo Norte do Brasil e Oeste da Guiana, constituindo a tripla fronteira. Fica na Serra de Pacaraima, é o ponto mais alto da Guiana, e a décima maior formação rochosa brasileira, com 2.723 metros de altitude.
O Roraima destaca-se por possuir características únicas. Estima-se que tenha se erguido há mais de 2 bilhões de anos, período em que nem sequer os continentes tinham se separado e adquirido a forma que possuem atualmente. Umas das peculiaridades que mais o diferenciam de quaisquer outros montes é o fato de se parecer com uma imensa "mesa", ou seja, seu topo é plano (e possui cerca de 90 km de extensão). Além disso, escorrem do monte milhões de litros de águas formando várias cachoeiras; na Venezuela os índios a chamam de "mãe das águas".
Sua fauna e flora é muito rica, contendo várias espécies endêmicas. Seu cume pode ser alcançado por expedições a pé, feita por pessoas vindas de todo o mundo, iniciadas geralmente pelo lado venezuelano, a partir da cidade de Santa Elena de Uairén. A caminhada deve ser feita com auxilio de guias experientes que podem ser contratados no início da trilha, e pode levar até 2 dias somente para alcançar o cume. Geralmente toda a expedição, com visitação a vários pontos do cume leva 6 dias, incluindo a subida e descida.
A lenda do Monte Roraima surgiu na tribo dos índios Macuxi, que ali habitavam. Conta que antigamente não havia nenhuma elevação naquelas terras. Muitas tribos indígenas viviam naquela área plana e fértil onde a caça, a pesca e outros frutos eram abundantes. Porém, num dia, nasceu num local uma bananeira, uma árvore que nunca aparecera ali antes. tornou-se, rapidamente, viçosa e cheia de belos frutos, mas um recado divino foi dado aos pajés: "Ninguém poderia tocar nela ou em seus frutos, pois aquele era um ser sagrado; Se alguém o fizesse, inúmeras desgraças aconteceriam ao povo daquela terra. Todos obedeceram o aviso que lhes foi dado. Porém, ao amanhecer de um certo dia, a tribo percebeu que haviam cortado a árvore e, em instantes, a natureza revoltou-se. Trovões e relâmpagos rasgavam o céu deixando todos assustados. Os animais fugiam. E do centro da Terra surgiu o Monte Roraima, elevando-se imponente até o céu. Pessoas dizem que até hoje o monte "chora" pela violação no passado.

Alguns números da aventura:
Altura do Monte Roraima
2.723 m
Distância de Santa Elena de Uairén à São Francisco (asfalto)
70 Km
Distância de São Francisco à Paraitepui (terra)
27 Km
Paraitepui ao Monte Roraima (cume)
25 Km
Distância de Paraitepui à Rio Tek
12 Km
Distância de Tio Tek ao Rio Kekenán
1,5 Km
Distância de Rio Kukenán ao Acampamento Militar
4,5 Km
Distância de Acampamento Militar ao Acampamento Base
4,5 Km
Distância de Acampamento Base até o cume
2,5 Km
Distância do cume até hotel São Francisco
2,5 Km
Distância do hotel São Francisco até la ventana de Kukenán
4 Km
Distância do hotel São Francisco até ponto Triplo
28 Km
Desnível (acampamento base até o cume)
870 m
Distância de Boa Vista até Vila Pacaraima/Santa Elena de Uairén (fronteira)
205 Km
Tamanho da área em cima do Monte Roraima
34,38 Km²


Por: João Narciso Arce da Rocha (JOTA), em 20 de julho de 2009.
e-mail: jotanarocha@hotmail.com



































































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