A ESCALADA COMO PRÁTICA DESPORTIVA
1. Objetivos: Divulgar a Escalada Esportiva Indoor como prática desportiva situando-a como uma das modalidades do alpinismo e meio de ingresso ao mundo excursionista .2. Apresentação
2.1 Excursionismo
O excursionismo engloba toda uma gama de atividades realizadas junto a natureza, como por exemplo, o alpinismo, o trekking (caminhada), rafting (descida de rios em botes infláveis), o canyoning (descidas de quedas d’água com o uso de equipamentos para técnicas verticais), a espeleologia (exploração de cavernas), etc. Envolve um profundo conhecimento e respeito pela flora, fauna e clima das regiões visitadas bem como pela cultura e costumes da população local.
Em uma excursão típica, normalmente estão relacionadas mais de uma dessas atividades, por exemplo, uma expedição alpina envolve normalmente trekking, camping e alpinismo.
2.2 Alpinismo
A necessidade de transpor obstáculos, de buscar um melhor ponto de observação ou de defesa, tornava a escalada de montanhas uma atividade importante desde tempos remotos. Apesar disso, o alpinismo, montanhismo, como finalidade em si mesmo, tem sua origem atribuída à conquista do Mont Blanc, em 1859 , nos Alpes europeus.
De lá pra cá, o esporte aperfeiçoou-se com a adoção de novas técnicas, materiais e equipamentos tornando-se mais segura acessível e, finalmente, subdividindo-se em suas varias vertentes.
2.2.1 Modalidades
• Alta montanha: refere-se à escalada dos altos picos nevados como o monte Everest, o K2 e o Aconcágua. Requer um preparo físico e psicológico intenso assim como logística, estrategia e sorte. Conhecimentos técnicos apurados de escalada em gelo e rocha, bem como métodos de sobrevivência e resgates são essenciais.
Existe controvérsia a respeito do termo correto a ser empregado, uma vez que, em tese, a palavra alpinismo estaria ligada apenas ao montanhismo alpino. Porém, emprega-se o termo, extrapolando além das fronteiras geográficas.
• Gelo/Neve: um escalador pode se especializar em técnicas de escalada em gelo para galgar blocos de gelo, cascatas congeladas e bancos de neve que requerem equipamento e conhecimento específicos, diferentes da escalada em rocha;
• Rocha estilo Big Wall: é a escalada das grandes paredes rochosas com mais de 300m de altura e que requerem mais de dois dias de escalada. Necessita de uma técnica extremamente apurada de escalada móvel e em artificial, onde, as vezes , erros não podem ser cometidos;
• Escalada Móvel e livre: nessas modalidades, utiliza-se apenas a rocha como meio para se progredir. Na escalada móvel, as proteções são colocadas na rocha pelo escalador durante sua ascensão e depois retiradas; enquanto que na escalada livre os pontos de proteção já encontraram-se fixados ;
• Boulder: é a escalada solo feita em blocos de pedras de no máximo 5 ou 6 m de altura. Normalmente, busca-se problemas com elevado grau de dificuldade próximos ao chão .
• Escalada Esportiva Indoor: nesta modalidade , escala-se em muros da escalada aonde agarras pré-fabricadas estão fixadas .
No Brasil, o alpinismo é um esporte que vem crescendo e se solidificando a cada dia, apesar de não existir nenhuma cadeia de altas montanhas em nosso território, ele é rico em formações rochosas que propiciam o desenvolvimento da escalada em rocha. Paralelamente, aparecendo como uma opção de esporte tipicamente urbano, proliferam as paredes de alpinismo onde pratica-se a modalidade de escalada esportiva Indoor.
2.3 Risco envolvido
O alpinismo carrega consigo uma áurea de aventuras e perigo. Entretanto, apesar do charme que esta imagem lhe confere, é a mitificação do risco que se apresenta como grande obstáculo para o crescimento do esporte. Grande parte do temor associado ao alpinismo é decorrente da exposição ao perigo que suas modalidades mais divulgadas apresentam.
Assim, de fato, a escalada em alta montanha, gelo/neve e estilo big-wall existe um nível de preparo físico, psicológico e técnico atingidos apenas após anos de experiência e intenso treinamento.
Ainda assim, os escaladores ficam sujeitos a imprevistos como tempestades, avalanches, desmoronamentos erros humanos, etc ...
Na escalada móvel é livre, o escalador utiliza apenas a rocha como ponto de apoio para progredir. Na escalada em artificial, o escalador fixa pontos de apoio na rocha.
Solo: consiste na escalada sem a utilização de nenhum equipamento. A escalada solo em prédios e rochas de grande altura não é considerado como modalidade do alpinismo.
2.4 A escalada esportiva indoor
Essa modalidade originou-se na extinta União Soviética sendo empregada durante o inverno como forma de condicionamento físico e técnico para a escalada em rocha. Nos anos 80, ganhou o mundo estabelecendo-se como modalidade própria e competitiva. Entre os países de destaque estão: França, Itália , Espanha, Estados Unidos entre outros.
A escalada esportiva Indoor é praticada em duplas: enquanto um escala o outro assiste fornecendo segurança (liberando ou esticando a corda, a medida que o parceiro escala). Observar que, nesse caso, todo equipamento de segurança é empregado apenas como proteção em casos de queda do escalador, e esse deve progredir apenas por seus próprios meios.
A escalada esportiva Indoor é considerada a modalidade mais segura, e (por isso) recomendada para os iniciantes, porque:
a- Minimiza-se a altura de queda para alguns centímetros, graças a adoção do Top-Rope (a corda já encontra-se passada no ponto mais alto da via de escalada (tal qual uma talha) e é recolhida a medida que o escalador sobe).
b- Minimiza-se o erro humano na segurança com o uso de freios autoblocantes (os freios tem a função de reter o movimento da corda, impedindo que o escalador caia. Os autoblocantes travam-se automaticamente em caso de queda).
c- Todo equipamento e ancoragem são solicitados muito abaixo de seu limite especificado e pode-se constantemente serem checados.
d- O sistema de ancoragem é duplo.
e- Existe a monitoração constante de escaladores mais experientes.
f- Não há imprevistos com o clima.
3 A escalada como esporte.
3.1 Características
A escalada indoor é um esporte que requer doses balanceadas de força, alongamento, explosão, resistência assim como técnica, leitura (é a qualidade que um escalador deve ter a fim de antever os movimentos necessários na escalada de uma rota) e precisão nos movimentos.
Fisicamente, a escalada envolve esforços para vencer o próprio peso do corpo, existindo uma relação peso/potencia adequada, aonde o indivíduo não é nem muito pesado nem muito fraco, para obter sucessos nas vias de maior nível técnico. Apesar de exigir indivíduos fisicamente saudáveis, sua prática todavia não requer um biótipo específico e, na realidade, observa-se que as pessoas de constituições físicas diferentes, acabam desenvolvendo estilos únicos adaptados ao seu peso, estatura, força, alongamento, etc. Todos porém, podendo escalar com igual sucesso os mais diferentes tipos de vias.
Um escalador deve ter também perseverança e determinação que beiram a teimosia. Como não existem receitas para escalar, e cada indivíduo deve encontrar o seu próprio estilo, a única solução é tentar e tentar. Normalmente é preciso retroceder analisando seus próprios defeitos e limitações, para logo em seguida, tentar superá-lo.
Adicionalmente, o fator psicológico tem tal influência que a falta de calma, de auto confiança ou stress podem impedir que um escalador conclua uma via que já tenha escalado diversas vezes.
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3.2 Benefícios
Ao praticar a escalada, nota-se uma considerável melhora na resistência e tônus muscular de todo o corpo, sem um aumento sensível em sua massa (observar que quanto maior o peso corporal maior devera ser o esforço empregado para escalar). Um grande senso de equilíbrio, controle motor e alongamento também são desenvolvidos.
Adicionalmente, a escalada molda um espirito de superação muito importante, pois os limites pessoais são freqüentemente alcançados e somente ao reconhecer e superar as próprias deficiências é que o escalador conseguirá progredir. Consequentemente, calcado nessa experiência e capacitado de evoluir cria-se um sentimento de autoconfiança e independência que se estende além do campo esportivo.
Conforme mencionado, a prática desse esporte é feita em duplas e uma vez que o sentimento de confiança mútua é muito importante para o trabalho em equipe, desenvolve-se dessa forma, uma forte ligação entre os parceiros. Aprende-se a aceitar e respeitar os limites das outras pessoas bem como os próprios limites.
Apesar de ser um dos chamados “esportes de ação” a escalada requer, paradoxalmente, muita calma e paciência do escalador a fim de que ele mantenha a concentração necessária para controlar o corpo e a mente, superando os lances mais difíceis.
Um dos grandes méritos da escalada esportiva indoor, é que se trata de um esporte onde não existe confronto direto entre os atletas. Cada um busca o melhor desempenho possível e, ainda assim, sempre lhe resta a chance ou a certeza de que pode melhorar mais. Não há um clima de competição agressiva e, ao contrário, existe sim uma atmosfera de confraternização e camaradagem.
3.2.1 O mundo excursionista
Já foi dito que o alpinismo, bem como os outros esportes e atividades ligadas ao excursionismo, nos leva ao mundo exterior para que possamos viajar ao nosso interior.
Muitas vezes só quando nos deparamos com a imponência da natureza, quando nos encontramos em situações adversas, cansados, com fome e frio é que aprendemos dar um devido valor às pequenas coisas como um banho quente, ou um simples copo d’água. As sucessivas lições de humanidade nos ensinam a ser mais tolerantes, a ter mais respeito por tudo que nos cerca, a
valorizar o ser humano e, principalmente, a própria existência.
GLOSSÁRIO
Agarras: irregularidade da rocha, que servem de apoio para o alpinista pisar ou segurar durante a escalada.
Ancoragem ou Base : ponto de partida ou de chegada, após uma enfiada de corda.
Big Wall: grandes paredes rochosas.
Boulder: bloco de rocha.
Cordada: grupo de escaladores unidos por uma ou mais corda.
Cordas Fixas: após a subida de um certo trecho é afixada à parede, sendo um caminho para subir e descer mais rápido, facilitando o abastecimento da equipe.
Enfiada ou Largo: Distância entre uma ancoragem e outra.
Escalada Artificial ( aid climbing ): escalada com uso de equipamentos para ascender. Dentro deste estilo existem graus de dificuldades as diferenciam e perigos de uma via , que vão do chão do A1 ao A5. O primeiro é considerado um nível seguro , e o último, perigoso e delicado, a ponto das proteções serem consideradas duvidosas.
Escalada Livre ( free climbing ) : escalada sem uso de equipamentos para ascender. Usa- se apenas meios naturais ( fendas, agarras ) da rocha para escalar. Na escalada livre, as cordas, amarradas na cadeirinha ou baudrier e as proteções, servem apenas para salvar o escalador em caso de quedas.
Escalada Solo: escalada sem uso de equipamentos de segurança. Se o escalador cair, morre.
Estribos: escadas de fita para o escalador se levantar e colocar outra proteção, sendo usado somente em escalada artificial.
Falésia: pequenas paredes de rocha, com até 100 metros de altura.
Hard Nailing Route: escalada complexa e extremamente difícil.
Haul Bag: saco de arrasto, onde se leva o equipamento para escalada numa big wall. Confeccionado em nylon balístico, resiste a fortes abrasões das rochas.
Haul Line: corda exclusiva para puxar os haul bags.
Hexcentric, Nut e Friend : equipamentos móveis retirados depois que se “amoldam” nas fendas) que servem de proteção.
Grampo: Olhal que é chumbado à rocha e ser de proteção fixa ( não é removido posteriormente ).
Jumar: aparelho blocante para subir pela corda , sem muito esforço.
Mosquetão : grande argola de alumínio especial , no formato de um elo de corrente , que possui um gatilho em uma das hastes que possibilita abrir e fechar. Serve para prender ou conectar os equipamentos.
Parede Negativas: paredes com mais de 90 graus de inclinação.
Paredonista ou Bigwallista: escalador de grandes paredes.
Plaquetas: equipamento de segurança para travar a corda ou descer de rapel.
Píton: prégo de cromo-molibdênio, usado para proteção nas fendas. Podem ser bem pequenos (rurp), finos (knifeblade), médios (lostarrow) , largos (angle ) e muito largo (bong).
Portaledge : rede de dormir.
Proteção : pontos fixos ou móveis na rocha, que servem de segurança ao escalador que cair.
Rapel : técnica de descida pelas cordas.
Rota ou Via : caminho da escalada, criado e “ batizado ” pelo escalador.
Pink Point: o escalador equipa e analisa a via (geralmente com corda de cima) e logo encaderna.
Top Roup: escalada livre utilizando-se da corda vinda do topo. A corda não deve ficar retesada em nenhum momento. Em verdade o Top Roup diminui sensivelmente o fator psicológico (adrenalina) no escalador.
On Sight: à vista. Via encadenada na primeira tentativa, sem pré- inspeção;
Solo: toda via feita pôr um escalador, em solitário, com ou sem segurança
Yô Yô: após uma queda, o escalador retorna ao último “No- hands rest; Sight ou Solo. Tipo Red Point, Pink Point, Top Roup, On.
Red Point: a partir dos anos 60, escaladores do mundo inteiro passaram a repetir antigas vias sob uma forma bela e revolucionária: o Free Climb!!! As vias assim realizadas recebiam um ponto vermelho. Hoje a via é previamente trabalhada e depois o escalador encadena realizando todos os movimentos guiando, sem quedas e sem pontos de apoio.
Flash On Sight: rota encadenada à vista, sem pré- inspeção e sem ter observados tentativas de;
Aid-rest: descansar num grampo no meio de uma sequência. Passagens assim são classificadas como artificiais;
No-Hands rest: literalmente ponto de parada sem às mãos. Seriam os pontos naturais de parada na rocha, tais como platôs, lacas, buracos, etc ...,
Hang Dog: com corda de cima, o escalador trabalha os movimentos na intenção de encadenar a via posteriormente num estilo aprimorado;
Via: é a rota seguida para escalar uma rocha ou montanha; nem sempre a mais fácil e óbvia está disponível;